sábado, 22 de outubro de 2011

Chapter one

Não é loucura, não é tristeza, não é vazio. Um dia depois de viver como há muito não vivia, me encontrei sufocado, agoniado com a rotina atravessada na minha garganta, sendo obrigado a sentir o cheiro fétido da vida normal. Querendo me desvencilhar de toda essa merda, apenas na tentativa de voltar a ter uma quantidade mínima de emoção dentro da alma, assim dando um certo gosto e coragem pra levantar da cama de manhã.
Ando já sabendo o meu destino, aonde preciso ir para resolver meus problemas burocráticos, porém ao chegar aos locais determinados sobe-me aos poucos um nojo torturante das pessoas que ali frequentam rotineiramente, das suas risadas vazias e sem graça e até das paredes invisíveis que dividem seus territórios, todas presas na imbecilidade. Eu não faço sentido e elas são apenas parte de uma grande idiotice pré-estabelecida. Todas iguais, o que diminui ainda mais a possibilidade deu criar qualquer tipo de interesse nelas, que convivam com essa mediocridade, não quero fazer parte disso. O tempo passa e eu aguento um pouco, mas penso em fugir, em sair pra algum lugar, porém logo percebo que não adiantaria, não faz diferença, nenhum lugar me confortaria ou me sossegaria a ponto de me tranquilizar e me deixar mais vivo. Fazendo um esforço, penso até em lugares imaginários, mas não adianta de nada, nenhuma ideia parece ser menos frustrante do que estar onde estou. Então foda-se, nem a ideia de apenas andar parece ser digna de escolha. Quando tudo acaba, me dirijo a uma praça, nem queria ir lá, mas fui sem pensar. Acho que é o hábito, maldita rotina. Não há muito que fazer e sinto pelo menos que o tempo de fim de tarde está agradável. Acendo um cigarro e observo os que ali passam, de início apenas olho, sem querer fazer o mísero esforço para notar algo além dos seus corpos se movimentando, porém dentre as pessoas, uma figura se destaca. Vindo em minha direção de longe, andar encantador. Usa vestes simples, mas com estilo ressaltado, o que mais chama minha atenção é seu semblante que talvez para a maioria seja normal, comum, para mim é algo a se contemplar, especial de alguma forma. Um rosto de alguém que dá uma amostra de quem é e deixa a maior parte a ser descoberta por quem se interessar. Enquanto a observo caminhar calmamente com sua amiga se aproximando, um avião que passa relativamente baixo por cima de nós faz um barulho incrível, isso chama sua atenção, ao descer o olhar de novo, inevitavelmente nos encontramos ligados pelo olhos, olhando um para o outro como se esperasse algo, tentei penetrar o mais profundo que pude naquele olhar, mas para minha decepção não resultou em nada. Ela logo desvia o foco e segue seu caminho passando ao meu lado, ouvindo sua amiga falar, como se eu não existisse ou fosse insignificante. Fico curioso para saber o que ela poderia ter pensado de mim naquele momento, se ao menos pensou alguma coisa. Breves segundos e que me tiraram do tédio profundo da minha existência. Foram bons segundos e que me renderam alguns minutos de bons pensamentos, um tanto imbecis, mas bons pensamentos.